"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda." (Paulo Freire)

sábado, 17 de março de 2012

Texto teatral - adaptação

     Neste bimestre, estamos trabalhando com texto teatral escrito. Na semana passada, os alunos entregaram o primeiro trabalho nesse gênero: uma adaptação do texto "Povo", de Luís Fernando Veríssimo. 
     Escolhi dois desses trabalhos para ilustrar o desempenho dos alunos. O primeiro está bem fiel ao original; já o segundo propôs algumas modificações, inclusive criando um novo desfecho.



O carnaval
(Adaptação Andressa Teixeira e Roberta Gravino)
Debora          (grita) Geneci…
Geneci           Senhora?
Debora          (entusiasmada) Preciso falar com você.
Geneci           (com medo) O que foi? O almoço não estava bom?
Debora          O almoço estava ótimo. Não, não é isso. Precisamos conversar.
Geneci           (desconfiada) Maaas aqui na cozinha?
Debora          Aqui mesmo. O seu patrão não pode ouvir.
Geneci           Sim, senhora.
Debora          Você…
Geneci           Foi o copo que quebrei?
Debora          (batendo o pé) Quer ficar quieta e me escutar?
Geneci           Sim, senhora.
Debora          Não foi o copo. Você vai sair na escola, certo?
Geneci           Vou, sim senhora. Mas, se a senhora quiser, eu venho na terça…
Debora          Não é isso, Geneci!
Geneci           Desculpe.
Debora          É que eu… Geneci, eu queria sair na sua escola!
Geneci           Mas…
Debora          Ou fazer alguma coisa. Qualquer coi-sa. Não aguento ficar fora do carnaval!
Geneci           Mas…
Debora          Vocês não tem, sei lá, uma ala das patroas? Qualquer coisa.
Geneci           Se a senhora tivesse me falado antes…
Debora       Eu sei. Agora é tarde. Para a fantasia e tudo o mais. Mas eu improviso uma baiana. Deusa grega, que é só um lençol.
Geneci           Não sei…
Debora          (insistindo) Saio na bateria. Empurrando alegoria.
Geneci           Olha que não é fácil…
Debora       Eu sei. Mas eu quero participar. Eu até sambo direitinho. Você nunca me viu sambar? Nos bailes do clube, por exemplo. Toca um samba e lá vou eu. Até acho que tenho um pé na cozinha. (Encabulada.) Quer dizer. Desculpe.
Geneci            Tudo bem.
Debora        Eu também sou povo, sou povo, Geneci! Quando vejo uma escola passar, fico toda arrepiada.
Geneci           Mas a senhora pode assistir.
Debora         Mas eu quero participar, você não entende? No meio da massa. (Entusiasmada.) Sentir o que o povo sente. Vibrar, cantar, pular, suar...
Geneci           Olhe…
Debora          Por que só vocês podem ser povo? Eu também tenho direito, poooxa.
Geneci           Não sei…
Debora          Se precisar, eu pago, eu pago!
Geneci           Não é isso. É que…
Debora        Está bem. Olha aqui. Não preciso nem sair na avenida. Posso costurar. Ajudar a organizar o pessoal. Ajudar no transporte. O Alfa Romeo está aí mesmo. Tem o Caravan, se o patrão não der falta... É a emoção de participar que me interessa, entende? Poder dizer “minha escola”. Eu teria assunto para o resto do ano. Minhas amigas ficariam loucas de inveja. Alguns iam torcer o nariz, claro. Mas eu não sou assim. Eu sou legal. Eu não sou legal com você, Geneci? Sempre tratei você de igual para igual.
Geneci           Tratou sim, senhora.
Debora          Meu Deus, a ama-de-leite da minha mãe era preta!
Geneci           Sim, senhora.
Debora       Geneci, é um favor que você me faz. Em nome da nossa velha amizade. Faço qualquer coisa pela nossa escola, Geneci.
Geneci           Bom, se a senhora está mesmo disposta…
Debora          (resolvida) Qualquer coisa, Geneci.
Geneci           É que o Rudinei e a Fátima Araci não têm com quem ficar.
Debora          Queeem???
Geneci           Minhas crianças.
Debora          (desanimada) AHHH.
Geneci           Se a senhora pudesse ficar com eles enquanto desfilo…
Debora          Certo, bom. Vou pensar. Depois a gente vê.
Geneci           Eu posso trazer elas e…
Debora          (irritada) Já disse que vou pensar, Geneci! Sirva o cafezinho na sala.

Povo
(Adaptação Louise Erthal Rabelo Parente e Raissa de Oliveira Couto)
Elizabeth:     (entra na cozinha gritando) Geneciiii!
Geneci:         Senhora?
Elizabeth:     Preciso falar com você.
Geneci:         O que foi?
Elizabeth:    Nada, somente uma conversa entra duas amigas.
Geneci:        Aqui na cozinha?
Elizabeth:    Aqui mesmo. O seu patrão não pode ouvir, você sabe com ele odeia o carnaval.
Geneci:         Sim, senhora.
Elizabeth:    Você… Você vai sair na escola, certo?
Geneci:         Vou sim, senhora. Mas se quiser que eu venha na terça, eu não ligo.
Elizabeth:    Não é isso, Geneci.
Geneci:         (cabisbaixa) Desculpe.
Elizabeth:  Não precisa desculpar-se. É que… Geneci, eu quero sair na sua escola. (Ansiosa.)
Geneci:         Mas…
Elizabeth:    Ou fazer alguma coisa. Qualquer coisa. (Insistente.) Não aguento ficar fora do carnaval.
Geneci:         (tímida) Mas… Não tem mais nada para fazer.
Elizabeth:    (apreensiva) Vocês não têm, sei lá, uma ala das patroas? Qualquer coisa.
Geneci:       Se a senhora tivesse me falado antes…
Elizabeth:   Eu sei. Agora é tarde. Para a fantasia e tudo mais. Mas eu improviso uma baiana. Deusa grega, que é só um lençol.
Geneci:         Não sei…
Elizabeth:    Eu até sambo direitinho. Você nunca me viu sambar? Nos bailes do clube, por exemplo. Toca um samba e lá vou eu. Até acho que nasci pro carnaval!
Geneci:         (rindo) Será? Não parece.
Elizabeth:    Pare, Geneci. Não brinque, é sério.
Geneci:       Eu sei, é que não tem mais vagas. (O celular de Geneci toca.) Desculpe, só um minuto. (Geneci se afasta e atende o celular.)
Elizabeth:    (impaciente) Mas seja rápida, temos que terminar essa conversa.
Geneci:         (volta feliz, com um sorriso no rosto) A senhora não vai acreditar!
Elizabeth:    (ansiosa) Mas o que foi, Geneci? Conte-me logo!
Geneci:         Está bem, vou te contar. Mas fique calma.
Elizabeth:    (mais ansiosa) Tudo bem! Agora me conte.
Geneci:      Então… A Bruna, da ala das baianas, sofreu um acidente e não poderá participar.
Elizabeth:    Mas… E aí?
Geneci:        E, como eu organizo a ala das baianas, tenho que arrumar uma substituta.
Elizabeth:    (eufórica) Não acredito! Isso é sério mesmo!? Não brinque comigo!
Geneci:         É sério, mas agora me diga o tamanho que calça e que veste.
Elizabeth:    (pula de alegria enquanto canta) Eu vou pro carnaval! Eu vou pro carnaval!
                       (Entra Robert, o marido.)
Robert:         Mas que alegria toda é essa?
Elizabeth:    (pisca para Geneci) Nada, querido, coisas de mulher.

(Geneci ri baixo.)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Papo sério: o Estado e seus deveres

     Oi, queridos! Lembram-se do nosso papo sério de 3ª feira passada? Falamos sobre a importância da escola para formar cidadãos participativos na sociedade, para formar seres pensantes e não "pensados". Pois bem, estou trazendo para vocês um assunto muito sério: leis, educação e responsabilidade do Estado (entendido aqui como "governos", em todas as esferas - municipal, estadual e federal).
     A lei máxima de nosso país é a Constituição Federal; abaixo dela, no campo educacional, temos a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, ou simplesmente LDB). Em seu artigo 4º, a LDB estabelece os deveres do Estado com a Educação. Vamos a eles:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola;
VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.


     Agora quero que reflitam: vocês acham que o Estado cumpre seus deveres com a escola pública?