Neste bimestre, estamos trabalhando com texto teatral escrito. Na semana passada, os alunos entregaram o primeiro trabalho nesse gênero: uma adaptação do texto "Povo", de Luís Fernando Veríssimo.
Escolhi dois desses trabalhos para ilustrar o desempenho dos alunos. O primeiro está bem fiel ao original; já o segundo propôs algumas modificações, inclusive criando um novo desfecho.
O carnaval
(Adaptação Andressa Teixeira e Roberta Gravino)
Debora (grita) Geneci…
Geneci Senhora?
Debora (entusiasmada) Preciso falar com você.
Geneci (com medo) O que foi? O almoço não estava bom?
Debora O almoço estava ótimo. Não, não é isso. Precisamos conversar.
Geneci (desconfiada) Maaas aqui na cozinha?
Debora Aqui mesmo. O seu patrão não pode ouvir.
Geneci Sim, senhora.
Debora Você…
Geneci Foi o copo que quebrei?
Debora (batendo o pé) Quer ficar quieta e me escutar?
Geneci Sim, senhora.
Debora Não foi o copo. Você vai sair na escola, certo?
Geneci Vou, sim senhora. Mas, se a senhora quiser, eu venho na terça…
Debora Não é isso, Geneci!
Geneci Desculpe.
Debora É que eu… Geneci, eu queria sair na sua escola!
Geneci Mas…
Debora Ou fazer alguma coisa. Qualquer coi-sa. Não aguento ficar fora do carnaval!
Geneci Mas…
Debora Vocês não tem, sei lá, uma ala das patroas? Qualquer coisa.
Geneci Se a senhora tivesse me falado antes…
Debora Eu sei. Agora é tarde. Para a fantasia e tudo o mais. Mas eu improviso uma baiana. Deusa grega, que é só um lençol.
Geneci Não sei…
Debora (insistindo) Saio na bateria. Empurrando alegoria.
Geneci Olha que não é fácil…
Debora Eu sei. Mas eu quero participar. Eu até sambo direitinho. Você nunca me viu sambar? Nos bailes do clube, por exemplo. Toca um samba e lá vou eu. Até acho que tenho um pé na cozinha. (Encabulada.) Quer dizer. Desculpe.
Geneci Tudo bem.
Debora Eu também sou povo, sou povo, Geneci! Quando vejo uma escola passar, fico toda arrepiada.
Geneci Mas a senhora pode assistir.
Debora Mas eu quero participar, você não entende? No meio da massa. (Entusiasmada.) Sentir o que o povo sente. Vibrar, cantar, pular, suar...
Geneci Olhe…
Debora Por que só vocês podem ser povo? Eu também tenho direito, poooxa.
Geneci Não sei…
Debora Se precisar, eu pago, eu pago!
Geneci Não é isso. É que…
Debora Está bem. Olha aqui. Não preciso nem sair na avenida. Posso costurar. Ajudar a organizar o pessoal. Ajudar no transporte. O Alfa Romeo está aí mesmo. Tem o Caravan, se o patrão não der falta... É a emoção de participar que me interessa, entende? Poder dizer “minha escola”. Eu teria assunto para o resto do ano. Minhas amigas ficariam loucas de inveja. Alguns iam torcer o nariz, claro. Mas eu não sou assim. Eu sou legal. Eu não sou legal com você, Geneci? Sempre tratei você de igual para igual.
Geneci Tratou sim, senhora.
Debora Meu Deus, a ama-de-leite da minha mãe era preta!
Geneci Sim, senhora.
Debora Geneci, é um favor que você me faz. Em nome da nossa velha amizade. Faço qualquer coisa pela nossa escola, Geneci.
Geneci Bom, se a senhora está mesmo disposta…
Debora (resolvida) Qualquer coisa, Geneci.
Geneci É que o Rudinei e a Fátima Araci não têm com quem ficar.
Debora Queeem???
Geneci Minhas crianças.
Debora (desanimada) AHHH.
Geneci Se a senhora pudesse ficar com eles enquanto desfilo…
Debora Certo, bom. Vou pensar. Depois a gente vê.
Geneci Eu posso trazer elas e…
Debora (irritada) Já disse que vou pensar, Geneci! Sirva o cafezinho na sala.
Povo
(Adaptação Louise Erthal Rabelo Parente e Raissa de Oliveira Couto)
Elizabeth: (entra na cozinha gritando) Geneciiii!
Elizabeth: Preciso falar com você.
Geneci: O que foi?
Elizabeth: Nada, somente uma conversa entra duas amigas.
Geneci: Aqui na cozinha?
Elizabeth: Aqui mesmo. O seu patrão não pode ouvir, você sabe com ele odeia o carnaval.
Geneci: Sim, senhora.
Elizabeth: Você… Você vai sair na escola, certo?
Geneci: Vou sim, senhora. Mas se quiser que eu venha na terça, eu não ligo.
Elizabeth: Não é isso, Geneci.
Geneci: (cabisbaixa) Desculpe.
Elizabeth: Não precisa desculpar-se. É que… Geneci, eu quero sair na sua escola. (Ansiosa.)
Geneci: Mas…
Elizabeth: Ou fazer alguma coisa. Qualquer coisa. (Insistente.) Não aguento ficar fora do carnaval.
Geneci: (tímida) Mas… Não tem mais nada para fazer.
Elizabeth: (apreensiva) Vocês não têm, sei lá, uma ala das patroas? Qualquer coisa.
Geneci: Se a senhora tivesse me falado antes…
Elizabeth: Eu sei. Agora é tarde. Para a fantasia e tudo mais. Mas eu improviso uma baiana. Deusa grega, que é só um lençol.
Geneci: Não sei…
Elizabeth: Eu até sambo direitinho. Você nunca me viu sambar? Nos bailes do clube, por exemplo. Toca um samba e lá vou eu. Até acho que nasci pro carnaval!
Geneci: (rindo) Será? Não parece.
Elizabeth: Pare, Geneci. Não brinque, é sério.
Geneci: Eu sei, é que não tem mais vagas. (O celular de Geneci toca.) Desculpe, só um minuto. (Geneci se afasta e atende o celular.)
Elizabeth: (impaciente) Mas seja rápida, temos que terminar essa conversa.
Geneci: (volta feliz, com um sorriso no rosto) A senhora não vai acreditar!
Elizabeth: (ansiosa) Mas o que foi, Geneci? Conte-me logo!
Geneci: Está bem, vou te contar. Mas fique calma.
Elizabeth: (mais ansiosa) Tudo bem! Agora me conte.
Geneci: Então… A Bruna, da ala das baianas, sofreu um acidente e não poderá participar.
Elizabeth: Mas… E aí?
Geneci: E, como eu organizo a ala das baianas, tenho que arrumar uma substituta.
Elizabeth: (eufórica) Não acredito! Isso é sério mesmo!? Não brinque comigo!
Geneci: É sério, mas agora me diga o tamanho que calça e que veste.
Elizabeth: (pula de alegria enquanto canta) Eu vou pro carnaval! Eu vou pro carnaval!
(Entra Robert, o marido.)
Robert: Mas que alegria toda é essa?
Elizabeth: (pisca para Geneci) Nada, querido, coisas de mulher.
(Geneci ri baixo.)